[RACISMO] Risonir Silva: eu passei a metade da minha infância, da minha adolescência, passando química no meu cabelo

Brendo Hoshington*

Risonir Silva em frente ao Grupo de Teatro Paula Monteiro. Foto: Brendo Hoshington.

CONTEXTUALIZANDO

Chega a parecer clichê insistir em continuar falando sobre racismo, mas é um assunto sério e será abordado quantas vezes forem necessárias. A escravidão acabou, mas o racismo persiste. Ele está enraizado na sociedade, e até mesmo internalizado dentro da própria comunidade, demonstrando de forma implícita suas atitudes racistas.

Pessoas sofrem todos os dias. A figura do negro é ligada a bandidagem, e quantos negros não são mortos todos os dias por serem confundidos com bandidos devido sua quantidade de melanina? Quantas pessoas não conseguem empregos devido sua cor? A jovem atriz, Risonir Silva, fala sobre a intolerância e todos os episódios de racismo que sofreu.

ENTREVISTA

Como é ser mulher negra no Brasil?

Risonir: Bem, ser mulher negra no Brasil é um pouco difícil, não vou dizer nem um pouco, é muito difícil, porque você fica exposta a bastante coisa. Eu mesma já sofri muito por conta da minha cor, do meu cabelo, e assim, na maioria das vezes eu escondia, não contava para ninguém, guardava pra mim, mas com o tempo eu vi que eu tinha que me abrir, que eu tinha que falar com alguém senão eu ia morrer com isso pra mim. Quando eu comecei a estudar eu sofri muito por conta do meu cabelo, da minha cor, eu passei a metade da minha infância, da minha adolescência, passando química no meu cabelo, não porque eu não queria aceitar meu cabelo e sim por conta das pessoas que ficavam falando dele e eu ficava com vergonha de assumir o cabelo crespo. Eu passei esse tempo todo passando química no meu cabelo e chegou um tempo que meu cabelo começou a cair e eu me desesperei totalmente, pensei “meu Deus o que é que eu faço?”, parei de passar os alisantes no cabelo e comecei a usar rastafári, aí meu cabelo foi crescendo novamente, e já faz dois anos que uso meu cabelo afro. Não ligo mais pra o que as pessoas falam, podem falar o que quiserem, mas o importante é eu estar bem comigo mesma.

Você poderia me contar uma situação de racismo pela qual já passou?

Risonir: Teve uma vez que eu fui convidada pra uma entrevista de emprego, e quando eu cheguei lá o pessoal começou a me olhar de uma maneira diferente, não sei se por minha cor ou por conta do meu cabelo, e quando eu entreguei meu currículo eles olharam e eles ficaram olhando, e eu acho que pensando se aquele currículo realmente era meu, por conta dos cursos que eu já tinha feito, eu acho que eles pensaram “essa menina tem capacidade pra fazer tudo isso?”

E você conseguiu o emprego?

Risonir: Não, até hoje, sinto muito essa dificuldade.

Risonir Silva. Foto: Brendo Hoshington.

Você já se encontrou em alguma situação de preconceito em que teve dificuldade pra identificar a agressão?

Risonir: Já, na escola eu lembro que o pior ano da minha vida foi o 9ª ano, eu lembro que eu sofri bastante, o pessoal gostava muito de colocar apelido em mim por causa da minha cor, sofri muito com isso, e eu sempre guardava pra mim, na maioria das vezes até na rua mesmo, passa uma pessoa e fala, você finge não ouviu, mas é impossível né?

Como mulher negra você já sentiu medo?

Risonir: Já, já senti medo, não por conta de eu não aceitar minha cor, mas por conta do que as pessoas vão achar, vão falar, antes eu ligava muito, mas hoje em dia não, eu ligo mais pra eu estar bem, tá me aceitando, e o que as pessoas acham e pensam; tô nem aí, eles acham e pensam o que quiserem.

Durante a infância foi complicado compreender que você não era inferior às outras pessoas?

Risonir: Sim, na minha infância eu não entendia muito as coisas, mas o mundo pra mim era tudo cor de rosa, mas quando fui crescendo eu fui entendo como de fato é a vida e como as pessoas agem e falam e pensam sobre pessoas negras e eu fui entendo a situação.

Se você pudesse dizer algo a uma criança negra o que você diria?

Risonir: Eu diria a ela que não ligue para o que as pessoas vão achar, vão falar de você, seja você mesma, não se preocupe com sua cor ou com seu cabelo e não desista dos seus sonhos, corra atrás, tudo é possível, basta você ter força de vontade, ter muita fé e você vai conseguir tudo o que você quiser.

Como o teatro tem feito a diferença nessa sua luta?

Risonir: Bem, o teatro entrou na minha vida pra mudar tudo, pra me transformar, porque antes de eu entrar no teatro eu era uma pessoa muito tímida, até na escola se o professor fazia uma pergunta e eu soubesse a resposta não levantava a mão por conta da vergonha, por conta das pessoas ficarem me olhando. Hoje em dia eu digo que o teatro é o meu melhor amigo, vamos dizer assim, porque no teatro você pode fazer várias coisas, coisas que você mesmo pode fazer. Tem sido muito importante, porque você consegue passar pra as pessoas a sua cultura, você consegue mostrar as pessoas que você deve respeitar as outras não por que ela é negra, você vai respeitar ela porque ela é um ser humano, não é por causa da cor que ela vai ser diferente de você.

Risonir Silva. Foto: Brendo Hoshington.